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Schadenfreude

Satisfação pessoal com a infelicidade alheia em palavra alemã

Por Rosângela Trolles

Brasil, novembro de 2017

Schadenfreude é o sentimento que os jornais devem respeitar e alimentar na visão de hoje. Este mote move o Número Zero, livro de Umberto Eco de 2015. Ele foi grande estudioso de mídia e fez nesta obra um panorama sarcástico do jornalismo atual.

Quando o personagem Colona recebe a proposta de trabalho de seu chefe, Simei, descobrimos que o jornal é apenas uma arma de seu financiador misterioso para galgar poder na alta sociedade financeira italiana chantageando com notícias desfavoráveis a seus desafetos.

O patrão ricaço e misterioso de Colona e o fato da estória se passar em 1992, são referências a operação “Mãos Limpas”, que desestabilizou o sistema político italiano naquela época. Isto veio a se reconfigurar quando Silvio Berlusconi, o empresário milionário (dono de jornais e do clube de futebol Milan) se tornou primeiro-ministro da Itália, cargo que ocupou pelas duas décadas seguintes. A partir daí fica mais evidente que a (falta de) ética do jornal é a forma que Umberto Eco usou para criticar a política italiana que nasceu dali, tão corrupta ou mais que a anterior, e a crise econômica que se acentuou de uns anos para cá no país.

E nós, por que não criticamos o jornalismo feito no Brasil? Aqui temos basicamente cinco veículos que manipulam as informações que circulam na sociedade: Globo, Folha, Estadão, Abril e Record. Porém, centenas de jornalistas estão fazendo jornalismo fora desse oligopólio. Está na hora de quebrar a fraude que são os veículos noticiosos nacionais.

Como Umberto Eco diz em Número Zero "a questão é que os jornais não são feitos para divulgar, mas para encobrir as notícias". Vivemos diariamente uma desinformação na qual os valores reais passam por inversões dos dramas e cortinas de fumaça dos problemas e assim vamos empurrando a criminalidade adiante.

"Não são as notícias que fazem o jornal, e sim o jornal que faz as notícias". Temos uma realidade de fait divers e factóides que embalam a opinião pública que nunca fica sabendo das verdadeiras histórias e tragédias e assim os desmandos se fortalecem e continuam a agir seus crimes.

"Os jornais ensinam como se deve pensar, as pessoas não sabem no início que tendências têm, depois nós lhes dizemos e elas percebem que as tinham". Assim é o jornalismo padrão e são as campanhas publicitárias. Vemos a exemplo de “Cem milhões de uns” da Rede Globo que tenta negar a enorme insatisfação com a emissora e tenta colocar panos quentes ao que já está vazando em seus próprios telejornais como Globo-lixo.

"Percebam que hoje, para contra-atacar uma acusação não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o acusador". As inversões são frequentes e sempre que aparecem acusações o jornalismo da fraude joga na oposição colocando a vítima como algoz e assim vai empurrando crimes graves como os assédios em tom de fofoca.

"Não é necessário inventar notícias, é só requentar". É isto que o jornalismo faz e fala de casos antigos sem dar forma ao novo que já está deflagrado e destruindo a sociedade. O jornalismo prefere falar em Segunda Guerra Mundial sem dar formas às novas maneiras de agressão, novas armas, como o teletransporte quântico, e desastre social.

Dentre todos estes métodos de anti-jornalismo vemos a satisfação com a infelicidade alheia, além disso, a população está cada vez mais ignorante, mal-informada e brutalecida por ordem de poderosos que aumentam minuto a minuto seus oligopólios antiéticos. E com eles um sistema político corrupto avança em crise econômica.
 

 

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