Pular para o conteúdo principal

O exercício da comunicação

Por Rosângela Trolles

7 de dezembro de 2014

Jornalismo hoje é uma atividade ainda mais árdua que em outros tempos. Com o enxugamento das estruturas trabalhistas, o bom profissional agora precisa ser cinco especialistas em um só.

Primeiramente deve se ser um repórter atento. Conseguir levantar dados, números, estatísticas, depoimentos, informações de toda a sorte, material para o tema de seu artigo, consultar fontes, saber entrevistar pessoas e checar a veracidade de fatos que podem ter muitas versões.

Isto costumava ser feito por um profissional, que vivia pesadamente atarefado cheio de visitas a fazer, anotações, documentos para analisar e produção de relatórios. Então se passava para uma etapa mais elaborada: a redação, que hoje, é feita em sequência de trabalho.

O redator deve pegar todos os ingredientes e construir um bom texto. Tem que ter capacidade de coesão e coerência. Deve ser uma pessoa que pratique a leitura e que busque desenvolver um estilo próprio. Deve ter cultura e talento não só para contemplar o assunto ou refletir sobre ele, mas conceituar diante da novidade e do fluxo temporal. Ah, e ter uma qualidade de escrita que nos encante.

Tudo isto utilizando a ferramenta mais difícil que já foi inventada na História da humanidade: a linguagem! Foi-se o tempo dos gabaritados revisores de texto. Hoje o profissional tem que, ele mesmo, estar com a ortografia, a gramática e todo o sistema linguístico com seus recursos tinindo. O procedimento é custoso em alto grau. Além de estar sempre em transformação com reformas e com o próprio uso criativo.

E é chegada a hora do fotógrafo, qual o quê? Saudades da dobradinha repórter-fotógrafo. Hoje o jornalista faz ele mesmo a documentação fotográfica e ai dele se não entender de enquadramentos, composição, closes, e da parafernália das máquinas fotográficas com seus flashes, zoons e detalhamentos técnicos.

Parou por aí? Não, aí vem o grande desafio. O jornalista hoje deve ser também seu próprio editor. Ou seja, ele tem que ter um feeling para pautas, saber abordar o assunto com respeito ao público e fazer valer a máxima da atividade que é a liberdade de expressão. E, ai meu Deus! Tem que ser também um bom advogado e ter amplo respaldo institucional para se defender.

Ora, mas será que estes profissionais encontram reconhecimento? Urge que sim. A massa sequer consegue dar uma contribuição para o processo de esclarecimento individual (e por conseguinte social).  Vide as redes sociais e o quanto elas revelam uma população mal formada, com opiniões obscuras, confusas e tendenciosas.

Ser cinco profissionais em um só de forma alguma favoreceu estes formadores de mundo, estes produtores do que é mais valioso num mundo dominado pela máquina, que de modo algum cria conteúdo.  No entanto, sabendo-se que vivemos a Era do Conhecimento, o jornalista, e sua propriedade intelectual, deve ser reconhecido por seu patrimônio material e imaterial. Cabe à sociedade defendê-lo, não só com apoios, mas efetivamente com os altos valores que merecem os que se dedicam a esta atividade.



 

 

 

Comentários

  1. Depreende-se do exposto que no Brasil não há jornalistas...
    G.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, há jornalistas e estes devem responder por cada vez mais tarefas em sua atividade.

      Excluir

Postar um comentário

Artigos mais visitados

Bacurau, um filme que sangra

por Rosângela Trolles RJ, 07 de setembro de 2019 Assim que assisti ao filme Bacurau não entendi, na angústia da violência extremada. Acontece que Bacurau fala de gente, não tem ouro como eu meio perdida no roteiro simbólico pensei, não tem briga explícita por recurso. Tem gente. Este é o recurso.  O colunista de O Globo (01/09/2019), Arthur Xexéu, se fez bem a pergunta, mas não lhe caiu a ficha. Pautou sua avaliação desta obra de arte atual pela pergunta que a personagem de Karine Teles faz para uma atendente de bar da cidadezinha; – Quem nasce em Bacurau é o quê?  Xexéu omitiu a resposta e disse que foi a única coisa que quis saber no filme, dando a entender que não era nada. Não entendeu. Achou que estava na Alemanha de Goethe. Porém, a cena é impactante e a resposta vem de súbito de um menino; - É gente! Bacurau , pra mim, não tem nada de ficção científica, como quiseram alguns lhe enquadrar neste gênero. É western sertanejo, terror gore . Ação pu...