Pular para o conteúdo principal

A lenda do chupa-cérebro


por Rosângela Trolles
RJ, 28 de novembro de 2008.

O chupa-cérebro é um personagem folclórico brasileiro originário de um fenômeno ocorrido no povoado de Fonte Limpa, no interior do país.

Conta-se que num determinado momento, um grupo de comerciantes se instalou no povoado. Vieram atraídos pelas possibilidades de uma vida promissora que oferecia Fonte Limpa.

Homens ásperos e arrogantes, estes comerciantes não passavam de saqueadores e rapidamente houve um desequilíbrio no povoado. Consequente de seus hábitos grosseiros surgiu um canal de lama cruzando a localidade. Um lamaçal putrefato, um esgoto onde antes havia somente águas purificadoras.

Destas fezes surgiram os chupa-cérebro, homúnculos sem capacidades, sem aptidão para construir conhecimentos. Isentos desta aptidão, sua ação ficava restrita aos instintos tornados abrutalhados e baixos, revelando-os seres ignóbeis e uma verdadeira praga na Natureza.

Seus corpos são moldados pelo vício determinado pela compulsividade de absorção de forças, as quais não produzem espontaneamente. Para sobreviver tornam-se parasitas.

Deste modo, eles escolhem indivíduos viçosos, energéticos, que possuem uma graça natural e então, à noite, quando estes estão recuperando suas energias vitais, os homúnculos se transformam em ectoplasma, aproximam-se de sua vítima e cravam um dente em seu cérebro.

A vítima sente imediatamente o desconforto. Seu pensamento através de sua voz passa a reverberar e em seu entorno seus gestos reflexionam sobre outras pessoas menos, ou nada, dotadas de graça.

Os homúnculos machos e fêmeas passam então a irrigar a energia cerebral das vítimas que serve para polir as moedas saqueadas pelos comerciantes eliminando a sujeira que emana de suas mãos, que as manuseiam.

No entanto, a ação dos comerciantes ocupados na pilhagem do patrimônio ancestral de Fonte Limpa rapidamente chega a um limite de arrecadação, dada a subtração rápida dos recursos existentes.
Isso significa, para os homúnculos, o fim de suas atividades, uma vez que não há mais moedas para polir, tendo sido todas já utilizadas em suas orgias.

Na fuga dos comerciantes, os homúnculos perdem as moedas sujas que ganham ao fornecer a energia para polir aquelas reservas. Começam então a entrar em estado de decomposição. Este processo enfatiza a exalação de um terrível fedor próprio destes seres surgidos de fezes de comerciantes imundos, tão diferente do que era próprio do organismo daqueles do povoado e que se nutriam das fontes cristalinas.

Os homúnculos putrefatos, desesperados com seu próprio cheiro insuportável, entram numa corrida caótica pela sobrevivência agarrando-se aos dentes cravados nos cérebros nutritivos, estrebuchando longamente, causando um terrível miasma tóxico.

Por isso, conta-se na cultura popular que não se deve deixar fossas abertas no povoado. Deve evitar-se seu aparecimento, pois daí surgem os chupa-cérebro; parasitas alimentados pelas moedas sujas obtidas pelo saqueamento das propriedades dos habitantes da localidade.

Os chupa-cérebro podem ser chupa-chupa-chupa-cérebro, quando se tornam tarados ou podem ser chupa-célebro, quando se acham influentes entre as populações, mas na verdade não passam de pederastas asquerosos. Tem também a chipa-cérebro, versão feminina autômata viciada e estéril chegada a uma mamata. Ela, como os demais, deixa a pessoa devastada e mata, tanto quanto o chupa-célebro e os chupa-chupa-chupa-cérebro.

Sendo assim, ensina-se aos moradores que se deve cuidar do povoado mantendo-se alerta para a atuação de vândalos e o aparecimento da delinqüência. Prevenindo evitamos o surgimento destes personagens folclóricos, protegendo a vida, a liberdade e a propriedade, erradicando a proliferação destes seres do mal.

Comentários

Artigos mais visitados

Bacurau, um filme que sangra

por Rosângela Trolles RJ, 07 de setembro de 2019 Assim que assisti ao filme Bacurau não entendi, na angústia da violência extremada. Acontece que Bacurau fala de gente, não tem ouro como eu meio perdida no roteiro simbólico pensei, não tem briga explícita por recurso. Tem gente. Este é o recurso.  O colunista de O Globo (01/09/2019), Arthur Xexéu, se fez bem a pergunta, mas não lhe caiu a ficha. Pautou sua avaliação desta obra de arte atual pela pergunta que a personagem de Karine Teles faz para uma atendente de bar da cidadezinha; – Quem nasce em Bacurau é o quê?  Xexéu omitiu a resposta e disse que foi a única coisa que quis saber no filme, dando a entender que não era nada. Não entendeu. Achou que estava na Alemanha de Goethe. Porém, a cena é impactante e a resposta vem de súbito de um menino; - É gente! Bacurau , pra mim, não tem nada de ficção científica, como quiseram alguns lhe enquadrar neste gênero. É western sertanejo, terror gore . Ação pu...