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Aborto com Damares


 Por Rosângela Trolles

Centenas de mulheres fazem aborto todos os dias. Uma intervenção perigosa e traumática. Várias recorrem a clínicas clandestinas caríssimas e assumem toda a responsabilidade sobre as consequências. Muitas utilizam-se de remédios abortivos, beberagens e outros métodos invasivos como até agulhas de tricô e muitas vezes vão à óbito.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) encabeçado por Damares Alves não poderia ser mais retrógrado. Não trata do assunto com a realidade das mulheres que precisam planejar suas famílias e enfrentar um mercado de trabalho em crise e ainda administrar seus relacionamentos que muitas vezes acabam com a chegada de um bebê.

Nas seis mulheres que ocupam as nove secretarias do Ministério - que tem orçamento de R$ 450 milhões - predomina o conservadorismo. Não se fala em feminismo, mas de ouvir mais os homens. Defende-se a família tradicional e quem se vê fora da estrutura patriarcal está a descoberto. Petrúcia Andrade é a única que já discordou de Damares neste tema central: assinou manifesto em defesa da descriminalização do aborto.

Mas isto ficou no passado. Hoje a filha do jurista Ives Gandra, Angela Vidal Gandra, também secretária da Família, é coerente com a “nossa ministra” e também contra o aborto. Ela porém nunca se casou e decidiu não ter filhos porque não era sua “vocação”. Pra piorar, ela foi notória defensora do projeto apelidado por críticos de “bolsa estupro”, que é um auxílio financeiro a mulheres vítimas de violência sexual que não interromperam a gravidez.

Um dos nortes de Gandra é a criação do “Observatório da família”, voltado para “proteger a noção familiar, de acordo com a Constituição”, e no qual ela pretende “dar voz aos homens”.

Já Eronildes Vasconcelos de Carvalho, que adotou a alcunha de Tia Eron e diz que ninguém manda nessa “nega” e que é viúva e mãe de dois filhos – Éden e Eva – também é obreira da Igreja Universal e integrava a bancada evangélica no Congresso.

Com R$26,6 milhões de orçamento, cabe a ela elaborar políticas públicas de proteção à mulher. Está ao seu cargo implementar políticas públicas para facilitar o acesso ao aborto legal na rede pública, mas ela é parceira de Sara Winter, autodeclarada antifeminista e militante contra o aborto.

A ministra Damares, por sua vez, defendeu a vida desde a concepção em encontro internacional na ONU, mas ainda não foram detalhadas diretrizes da nova administração para a área.

Em pleno século 21, na Era do Conhecimento, infelizmente pouca informação existe sobre o aborto. Muitas mulheres perdem a vida ou o rumo por esta questão. O assunto não deveria ser tabu uma vez que a maioria das mulheres é obrigada a fazer esta intervenção seja por questão financeira, seja por questão psicológica, seja por abandono de seus pares.

O retrocesso das políticas para a Família faz com que muitas mulheres sucumbam por maus serviços ou desespero. Não só um procedimento com segurança deveria ser garantido como também o acompanhamento de Assistência Social e Psicologia para evitar  abortos desastrosos. Estes destroem famílias por falta de abertura ao assunto e ausência da parte dos homens que muitas vezes não assumem seus filhos.

Fazer ou não fazer um aborto deveria ser uma discussão aberta na sociedade pois é uma decisão que não tem volta e muito importante para a vida da mulher e da Família.
 

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