Presidente equatoriano afirma ter recebido do Reino Unido a
promessa de que Assange não será extraditado “para um país onde possa sofrer
torturas ou a pena de morte."
Rosângela Trolles com El País
A Polícia Metropolitana de Londres deteve nesta quinta-feira,
11 de abril de 2019, Julian Assange, cofundador do Wikileaks, depois que o
Equador cassou o asilo diplomático que lhe oferecia há quase sete anos, segundo
um tuíte da própria corporação policial britânica.
O presidente do Equador, Lenín Moreno, também confirmou na
rede social que cancelou o asilo diplomático a Assange, que vivia desde junho
de 2012 dentro da Embaixada equatoriana em Londres.
Na mensagem, o mandatário também anexou um vídeo em que afirma
ter solicitado ao Reino Unido “a garantia de que o senhor Assange não seria
entregue em extradição a um país onde possa sofrer torturas ou a pena de
morte”. “O Governo britânico confirmou isso por escrito, em cumprimento às suas
próprias normas”, acrescentou Moreno.
Abandonado pelo governo de Quito, Assange compareceu perante
um juiz britânico depois que as autoridades norte-americanas emitiram um pedido
de extradição ao Reino Unido e, nesta noite, dormiu na prisão.
Conforme explicou a
Scotland Yard e, posteriormente, confirmou a primeira-ministra Theresa May no
Parlamento, a detenção foi em resposta a um pedido de extradição do Governo dos
EUA. Assange enfrenta a acusação de um grave crime contra a segurança dos
computadores: a publicação, no site Wikileaks, de centenas de milhares de
documentos classificados pelo Departamento de Defesa. A penalidade por esse
tipo de ato é de cinco anos de prisão.
Naquela ocasião, ele teve a colaboração de um analista de
inteligência, Chelsea Manning [que trabalhava no Pentágono com o nome de
Bradley Manning, antes de mudar de sexo]. Juntos, eles publicaram toneladas de
material secreto, entre os quais havia informações sobre as guerras no Iraque e
no Afeganistão ou telegramas diplomáticos do Departamento de Estado, o que
colocou as relações de Washington com o resto do mundo em risco.
Em 2012, Julian Assange era alvo de uma ordem europeia de
prisão expedida pela Suécia, onde havia sido acusado de dois crimes sexuais,
depois arquivados. Refugiou-se na Embaixada do Equador em Londres em junho
daquele ano e, depois de dois meses, o então presidente equatoriano, Rafael
Correa, lhe concedeu asilo. Mais adiante, deu-lhe também a nacionalidade
equatoriana.
Com a saída de Correa da presidência, em 2017, e a chegada
de Lenín Moreno, as relações entre Assange e o Equador se deterioraram a ponto
de a embaixada cortar suas comunicações – algo que, pontualmente, já havia
ocorrido na época de Correa – e impedir as visitas externas, exceto as de seus
advogados.
O último episódio foi a cassação do asilo diplomático: “O
Equador decidiu soberanamente retirar o asilo diplomático de Julian Assange por
violar reiteradamente convenções internacionais e o protocolo de convivência”,
escreveu o presidente equatoriano em um tuíte nesta quinta-feira, 11 de abril
de 2019.
A Polícia Metropolitana deteve Assange na própria Embaixada,
cumprindo ordem do Tribunal de Magistrados de Westminster de 29 de junho de
2012. O cofundador do Wikileaks, uma organização que publicou milhares de
documentos secretos norte-americanos, foi posto à disposição policial antes de
comparecer ao tribunal.
Em novembro passado, soube-se que o Departamento de Justiça
dos EUA tinha uma acusação judicial preparada contra Assange, que através do
Wikileaks divulgou ferramentas cibernéticas da CIA e teve um papel central na
suposta ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016. A intenção era
formalizar a acusação, mas mantê-la em sigilo até que Assange fosse detido –
porém, acabou sendo incluída por engano em um documento judicial público. O
texto não detalhava as acusações contra o hacker australiano.
O Wikileaks disse em sua conta oficial do Twitter que “o
Equador encerrou de forma ilegal ao asilo político concedido a Assange, numa
violação do direito internacional”. O portal especializado em vazar sigilos
oficiais salientou que “Julian Assange não saiu andando da embaixada”, e sim
que “o embaixador equatoriano convidou a polícia britânica a entrar e ele foi
detido”.
Tudo indica que Assange passará os próximos meses em uma
cela de prisão em Wandsworth, nos arredores de Londres. A partir daí, o hacker
permanecerá atrás das grades até que um longo processo judicial seja concluído
— os especialistas falam por até dois anos — para decidir se concederá sua
extradição para os Estados Unidos.
Sem mencionar que as autoridades suecas mostraram interesse
em reabrir o caso de suas alegadas violações de 2010, que haviam sido
provisoriamente arquivadas.
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