Dark, o nó e a máquina exterminadora

Por Rosângela Trolles

Dark, série alemã de ficção científica (2017-2020 Netflix), parece ter dado um nó na cabeça de todos que caíram perplexos em sua trama. Mas calma. Dark nos traz um futuro que já existe para um passado que nunca devia ter existido.

Eu explico. Dark parte do mito de origem que chama de o mundo de Adam e Eva. Eis aí os dois mundos que são a chave da trama. Mas os roteiristas Baran Bo Adar e Jantje Friese incluem um terceiro mundo ao que chamam de triqueta.

Eles dizem que sempre pensamos de forma dualista e que há uma terceira dimensão que é o nó entre os dois mundos. Para Dark a triqueta é o filho e vai jogar o tempo num emaranhado quântico com as origens que eles dizem ser o útero mas que também é a caverna. É na caverna que existe o mistério e onde desaparecem crianças por uma seita satanista.

Martha, Jonas e Bartosz formam o triângulo amoroso de Dark. Qual caminho seguirá o fluxo do destino? Martha Nielsen (filho de Niels) é filha de Ulrich (ultrarrico, capitalismo?), neto de Agnes e irmão de Mads (loucura), primeira criança a morrer. Ele é morto com os olhos e ouvidos queimados nas mãos de Helge Doppler (duplo), induzido por Noah, o padre.

Helge é filho de um diretor-executivo da Usina Nuclear de Windem que fica deficiente físico e vê seu filho ficar demente e se tornar um mero vigia da Usina. Helge é apaixonado por Cláudia Tiedmann (homem amarrado), a primeira mulher a ocupar um cargo de poder na Usina. Ela não tem marido, mas tem um caso com o pai de Ulrich e tem uma filha, Regina, que é mãe de Bartosz e ela deseja muito salvar do câncer.

Cláudia incentiva os estudos do cientista H.G.Tannhaus e incrementa sua invenção de uma máquina do tempo e a publicação de seu livro que teve apenas 500 cópias; Uma jornada no tempo. O protótipo desta máquina é uma cadeira elétrica mas com o progresso ela  avança com a invenção do telefone celular para a formação de uma massa escura e eletrizada.

Jonas Kahnwald (barco da floresta) é filho de Hannah e Michael-Mikkel que se suicida por enforcamento. Jonas está investigando a morte do pai e o desaparecimento de Mikkel em criança e vai internado em um manicômio. Mikkel é o filho mágico de Ulrich e irmão de Martha e Magnus e é o segundo a desaparecer, seguido de Erick e Yasim.

Martha e Jonas sonham que fazem sexo e acham que ficam perfeitos juntos, mas quando Jonas se afasta ela começa a namorar Bartosz Tiedmann que tem em seu poder a máquina do tempo. Ela é uma atriz e interpreta Ariadne do mito grego que é o fio condutor para combater o minotauro do aniquilamento e sair do labirinto da psiquê.

Mas Jonas é na verdade Adam que diz em um templo do futuro que se Martha existir ele não poderá existir e a mata no dia do apocalipse, 27 de junho de 2020. Mas Martha volta mudada de cabelo Chanel e com uma máquina que é uma transportadora de matéria, um teleporte.

Apesar de não conhecê-lo mais, Jonas a persegue enquanto Bartosz casa com Silja (cega como a justiça), irmã mais nova de Jonas, filha de Hannah e Egon (pai da Cláudia). Eles têm dois filhos; Hano e Agnes.

Agnes (avó de Ulrich) dá princípio a tudo. No templo de Adam e Eva há um símbolo de infinito unindo duas árvores genealógicas, ambas começando de Agnes. Ela achava que seu marido era mau e se envolve com a mãe de Cláudia, a mulher emancipada.

Martha, porém, tem um filho com Jonas também. Ele nunca recebeu um nome e tem um lábio leporino, é sombrio e mata por asfixia pessoas como Yasmin, uma funcionária da Usina Nuclear e Hano, que termina cego.

As incursões nas cavernas túnel são muitas atrás dos mistérios do desaparecimento e Jonas se conduz por um fio preso a uma argola de serpente. Tannhaus explica sobre a ponte Einstein-Rosen ou buraco de minhoca mas Jonas apenas vê em seu fundo um portal da religião no qual está escrito Sic mundus creatum est (assim foi criado o mundo). Já Cláudia em suas investigações vê barris de combustível energético. Ela está atrás da partícula de Deus que a máquina do tempo pode revelar.

Mais tarde, no templo já em ruínas no pós-apocalipse o invento vai gerar uma massa amórfica e dinâmica energizada controlada por Adam que consegue matar de uma vez por todas Martha. Tudo apesar das investigações da chefe de polícia Charlote Doppler que busca resposta para o desaparecimento das crianças em Windem.

Charlote é casada com Peter, filho de Helge, o qual tem um caso com um transexual que vive num trailer e é irmão de Wöller, policial que usa um tapa olho direito na primeira temporada e na segunda temporada perde o braço esquerdo e ao final casa com Hannah que está esperando um filho.

Charlote é adotada do cientista H.G.Tannhaus e Jonas e Martha são anjos que prevêem a morte de seu filho ao atravessar uma ponte. Então, na cena final, Regina filha que Cláudia queria salvar está com Katharina mãe de Martha, Magnus e Mikkel e mulher de Ulrich que é amante de Hannah e Charlote.

Elas estão com Peter e o transexual e seu irmão Wöller que teve seu olho esquerdo atacado e se casa com Hannah que celebra a gravidez. Ela anuncia a vinda de Jonas-Adam numa escolha declarada por um mundo, o mundo no qual Martha-Eva não pode existir.

Realmente fiquei extremamente decepcionada com os criadores da série. Apesar de eles mostrarem que Martha é a origem, o útero e o fio condutor da caverna como foi criado o mundo eles fazem uma escolha exterminadora.

O paraíso que eles buscam com a ausência de dor e sofrimento me pareceu pura destruição e requer excluir Eva, pois Adam fala que ela nunca vai alcançar o objetivo dela e não merece ser salva tanto quanto o mundo de Jonas. Parece que os próprios autores não acreditaram na fala de Cláudia que alertou à Martha que Jonas é do mundo da sombra e que quer acabar com os dois mundos e o nó. Eva, no entanto, só queria salvar os dois mundos.