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Triângulo da tristeza


por Rosângela Trolles

Maio, 8 de 2023

Essa resenha é pra você que já viu o filme. Vamos debater essa obra?

Esse título foi vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2022 e concorreu a melhor filme da premiação do Oscar 2023.  Eu adorei o roteiro e direção do sueco Ruben Östlund que traz um casal de celebridades e os impasses do sistema e a realidade do trabalho e geração de renda e futuro. O enredo é uma bela sátira do capitalismo desgovernado.

Carl (Harris Dickinson) é jovem e belo e está buscando colocação para representar uma marca de sucesso. Durante uma seleção de emprego lhe falam; cuidado com o triângulo da tristeza. E o produtor explica que é esta região que fica entre as sobrancelhas e o início do nariz. Mas é isso mesmo? O roteirista não entrega suas ideias numa linguagem óbvia.

Yaya (Charlbi Dean) é sua namorada e eles discutem. Ela quer que ele pague a conta do restaurante e Carl está desempregado. Yaya é uma influencer bem paga. Carl quer sexo e Yaya diz que se engravidar vai ter que parar de trabalhar e virar apenas um troféu. Por isso, precisa de um parceiro que possa sustentar ela e os filhos. Mas Carl não entende e fala de igualdade...

Yaya ganha uma viagem num cruzeiro com super-ricos. Ela e Carl estão mais ao nível da tripulação que é treinada a servir todas as vontades dos viajantes. Então eles conhecem um anticomunista russo que vende estrume, um americano solitário que fornece conteúdo para plataformas de internet, um casal inglês que fabrica armas e granadas, um casal alemão que enfrenta um desastre e apenas repete a frase; nas nuvens. E não é aí que está todo nosso trabalho atual?

O capitão americano (Woody Harrelson) do cruzeiro se tranca em sua cabine para se alcoolizar. O iate vai perdendo o rumo enquanto os passageiros se encontram. O capitão socialista vai para o comando e trava um diálogo hilário com o capitalista russo num jogo de citações de seus ídolos da política e intelectualidade até que o iate começa a naufragar dentro de uma escatologia se inundando de esgoto ao afundar no mar.

Surge um barco pirata com alguns africanos que atacam o iate com as armas do casal britânico e alguns passageiros se lançam numa embarcação de emergência. Alguns sobreviventes vão parar numa ilha deserta e... não há comida nem ninguém ali sabe trabalhar para se defender. É aí que vai surgir a personagem emblemática do conflito: Abigail (Dolly De Leon).

Ela é a chefe das faxineiras, uma filipina e única que consegue pescar peixes e prepará-los para comer. Assim a hierarquia muda e ela estabelece um novo modelo de poder no grupo. Exige que não seja mais chamada de faxineira e sim de comandante. Com novo poder, Abigail escolhe o gato Carl para parceiro. Quer sexo. Carl se esconde de Yaya e declara para Abigail: Eu te amo, você me dá peixe.

Esse é o triângulo da tristeza! Abigail instaurou uma lógica para Carl e Yaya do saber e do poder do trabalho naquela ilha na qual os super-ricos nada podiam.

Yaya aborrecida resolve ir explorar a ilha e Abigail resolve ir com ela para manter seu predomínio. É então que Yaya descobre a entrada de um resort de luxo onde tudo poderia voltar à normalidade do sistema no qual ela representa a publicidade e o mercado das grandes marcas de consumo. Yaya se sente esperançosa e oferece ajuda a Abigail que só tem uma esperança para sua existência: acabar com sua rival. Mas Carl corre em direção ao seu futuro.

E existe futuro para essa juventude?



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